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Jungle Erotic ou Africa Erotica: A Happening In Africa ou Karen, The Lovemaker  PERÍODO NORTE-AMERICANO
Lançado comercialmente nos Estados Unidos em novembro de 1970, dirigido por Zygmunt Sulistrowski

SOBRE O FILME

Robert é um escritor e fotógrafo que busca uma modelo para o acompanhar em suas aventuras pelo mundo. Em Los Angeles ele encontra Karen, uma jovem ingênua que, apesar da resistência inicial, acaba aceitando a proposta de ser fotografada em ambientes selvagens. Eles logo chegam ao continente africano, explorando o local em um carro híbrido que também serve como um pequeno barco. Em determinado momento, Robert pede a Karen para posar nua. O pedido a deixa instável emocionalmente pois a recorda de um abuso sexual sofrido quando jovem. O casal vai se entendo melhor ao longo da viagem, se abrindo e contando experiências anteriores, como uma paixão que Robert deixou para trás em Hong Kong. O filme contém algumas sequências notáveis, como uma em que um macaco está "descobrindo" sexualmente o corpo de Karen, enquanto ela está desmaiada depois de bater a cabeça em uma pedra. Outra sequência marcante e sugestiva acontece quando uma cobra gigantesca se enrola no corpo de Karen, que é salva em uma investida de Robert. Ao longo do filme são inseridas diversas sequências de sexo sem conexão aparente com a narrativa, inclusive com personagens diferentes nunca vistos antes. Isso se deve possivelmente por um motivo comercial, definido pelo mercado que a produção almejava na época.

CRÉDITOS REDUZIDOS

Produção: Zygmunt Sulistrowski
Roteiro: Zygmunt Sulistrowski e Jordan Arthur Deutsch
Direção: Zygmunt Sulistrowski e Louis Soulanes

Música: Moacir Santos, Enrico Simonetti e Zygmunt Sulistrowski
Regência: Enrico Simonetti


DESCRIÇÃO E ANÁLISE DA TRILHA

Os compositores Moacir Santos, Enrico Simonetti e o próprio diretor Zygmunt Sulistrowski são listados nos créditos iniciais como autores da trilha de Jungle Erotic. Tanto os créditos na tela quanto o IMDb citam Moacir como o compositor principal, sendo que o IMDb e os créditos da Cinemateca Brasileira especificam Simonetti apenas como regente das gravações da trilha.

Enrico Simonetti foi um pianista e compositor italiano que residiu e trabalhou no Brasil entre os anos 1950 e 1960, período em que compôs diversas trilhas para o cinema. Simonetti participou de quatro filmes de Sulistrowski antes de Jungle Erotic, são eles: Feitiço do Amazonas [1955], Passion of the Wilderness [Tumulto das paixões, 1958], Duas Mil Milhas de Amor [1959] e How I Lived as Eve [Katu no Mundo do Nudismo, 1963]. Já Moacir Santos trabalhou em apenas dois filmes do diretor: Love in the Pacific [1968] e Jungle Erotic. Visto isso, pode-se imaginar que Simonetti tenha indicado Santos para Sulistrowski, pois Simonetti era maestro, compositor e arranjador da Record em São Paulo na década de 1950, empresa na qual Santos atuou no ano de 1956.

Em geral, a sonoridade da trilha remete às produções hollywoodianas do mesmo período, com uso extensivo de formações orquestrais, visto que o orçamento do filme era grande o suficiente para a contratação de um número considerável de músicos. A instrumentação padrão da maior parte das inserções musicais é uma combinação de cordas arcadas, sopros, piano, harpa e percussão.

Contudo, é possível ouvir inserções musicais mais étnicas em trechos pontuais, como por exemplo o ritual afro composto para balafon [uma espécie de xilofone, tradicional em diversas culturas africanas] e percussão [atabaques e xequerê]. Essa inserção musical acompanha uma apresentação em um bar que simula um ritual tradicional e localiza a chegada dos personagens ao continente africano. Outra inserção com a função de situar o espectador sobre uma determinada localização é uma "batucada carnavalesca" tocada por surdo, pandeiro, cuíca, etc, que é executada em uma sequência de um baile de carnaval. Ainda em outro caso, um trecho orquestral é somado a instrumentos étnicos orientais em uma estrutura modal pentatônica, para representar, de maneira estereotipada, a parte chinesa do filme. É interessante notar que nos dois primeiros casos, os trechos musicais são percebidos como diegéticos, apesar da fonte sonora não ser vista claramente em cena.

De outro lado, há uma grande variedade de gêneros musicais utilizados na trilha extra-diegeticamente. Por exemplo, um trecho orquestral na forma de um baião [um tanto quanto duro e sem suingue] com a melodia alternando entre a seção de cordas e de metais, acompanhados por percussão [tambor e triângulo]. Essa inserção é o tema dos créditos iniciais e aparece mais algumas vezes ao longo da trilha, se tornando assim um dos temas principais. Outros exemplos dessas inserções são: outro baião executado por uma formação menor de flautas, violão e percussão; três temas jazzísticos, um no estilo de Bill Evans tocado por piano e saxofone alto; outro lembrando a sonoridade das big bands dos anos 1930; e um último mais próximo do cool jazz dos anos 1960. Por fim, também são ouvidas duas inserções de fusion: uma primeira que mescla elementos "tribais" com funk e blues, executado por sintetizador, atabaque, bateria, contrabaixo, piano e sopros; e outra faixa mais funky, tocada por flauta, piano elétrico, guitarra [com wha], contrabaixo e bateria.

Não foi possível determinar com precisão o que foi de fato composto por Santos, Simonetti e Sulistrovisky. Mas pode-se imaginar que o diretor atuou em um plano mais informal, com ideias gerais e/ou cantando motivos ou temas a serem trabalhados pelos compositores. O fato de existir a creditação de Simonetti como regente [além de Santos sempre ser creditado como responsável principal da música] nos leva a crer que ele tenha atuado possivelmente apenas nessa função. Além disso, são perceptíveis nessa trilha características composicionais de Santos que já vinham sendo desenvolvidas desde suas produções audiovisuais anteriores.

Por fim, pode-se dizer que a montagem do filme é um pouco confusa, com alguns planos dispostos de modo quase aleatório ou com pouca relação com a progressão linear da história. E a música atua como um elemento unificador, amarrando as sequências de maneira mais fluida e natural, por meio da instrumentação e recorrência motívica.

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